Arquivo da categoria: livros

“Dica” de livro: Trilogia Millenium – Stieg Larsson

Ainda não li mas já comprei o primeiro volume pois me foi indicado por uma leitora assídua e de muito bom gosto, minha cunha Ana Lucia.

Ela comentava que após iniciar a leitura, impossível parar de tão interessante…

Livro daqueles que nos deixam noites acordadas e que ao final sentimos falta…

Fica a “dica” de uma pessoa muito culta e de bom gosto mas que também gosta de curtir a vida…

Para aqueles que vão sair de féria em março, obrigatório… Para os amantes de um bom livro, eu inicio HOJE!!!

Para aqueles mais interessados vale a pena ler um pouco sobre a historia do escritor, pois a Trilogia foi lançada postumamente…

Trilogia Millenium – Stieg Larsson

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Clínica Tavistock Compreendendo Seu Filho

A Fernanda, uma leitora do nosso blog, deixou uma dica para quem esta a procura destes livros e esta com dificuldade em encontrar:

“Sou estudante de pedagogia da Unicamp e recebi os livros como indicação de uma professora de letras. Foram muito bem recomendados, mas não são mais editados. Para quem tiver interesse, tem alguns exemplares na estante virtual.
Abraços,
Fernanda R.”        
 
Outra leitora do blog, amiga minha, tambem Fernanda, contribuiu comentando “que e possivel comprar edicoes usadas no amazon.com.”                                         
 
 

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“Dica” de livro: Estrela Amarela

A Estrela Amarela é o emocionante relato verídico de uma entre as 12 crianças sobrevivente de um dos guetos da época do nazismo na Polónia.

Sem que a família soubesse, como é o caso de muitos judeus sobreviventes, depois de muitos anos, a Tia, Syvia, “a criança”  sobrevivente, resolve contar a sua historia, que compreende a de muitos outros a uma sobrinha, Jennifer, e assim nasce este emocionante livro, relato poético, triste, feliz, milagre, verdadeiro, que eu, pessoalmente li inteiro ontem a noite ao deitar, não conseguia parar…

Em 1939 os alemães invadem a Polônia, dando inicio a Segunda Guera Mundial, pouco depois começam a isolar os judeus em guetos, como o de LODZ, onde entre quase 250 mil pessoas confinadas vivendo de forma animalesca, sem comida, passando frio mas tentando manter os valores e principalmente a família existia uma garotinha de 4 anos, Syvia, que mais tarde adaptou seu nome a Sylvia.

Não há comida, não há escola, não pode sair de casa, e suas brincadeiras são fazer bonecos de poeira e assoprar fingindo que estavam se movendo e deitar-se em vários cantos da casa para observar os diferentes pontos…

Estrela Amarela é um relato verídico, intimo e tocante, feito a partir das lembranças “dessa menininha” que escapa da morte com outras poucas crianças pois as outras todas foram exterminadas. Hoje avó e viúva, vive na América perto dos netos.

Com uma série de passagens verdadeiras e muito emocionantes, através do olhar e do sentimento de Syvia, podemos reviver, ao menos um pouquinho a atrocidade, a loucura que ocorreu durante o nazismo, o que sofreram, a forma pior que animalesca com que foram tratados os judeus, o extermínio mas ao mesmo tempo ela nos mostra a força dos valores de um povo unido, com um sentido de família, de ajudar o próximo, de força de vida inacreditável. Existem passagens lindíssimas de amor ao próximo, de amor a família de amor a vida, e são todas verdadeiras, contadas por uma “menininha” sobrevivente que passou entre seus 4 anos até completar 10 dentro de um gueto de horrores.

LIVRO: Estrela Amarela

AUTORA: Jennifer Roy

Cia. Das Letras

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Dica de livros: Jane Austen, toda coleção

– Razão e Sensibilidade

– Orgulho e Preconceito

– Persuasão

– Emma

– Mansfield Park

A obra de Jane Austen alem de tremendamente bem escritas são de um magnetismo incrível, uma vez você iniciando, não consegue parar. Histórias fascinantes, que nos levam a outros tempos, sentimos o cheiro da casa, o toque do piano, o verde dos campos e a coragem de certas personagens a frente de seu tempo. Outros valores, outras formas de se viver e encarar a vida, de desfrutar a vida. Bailes luxuosos, vestidos, casas, dores e amores… Tudo contado de forma inteligente e agradável. Sabe aquele livro que sentimos falta quando termina? Li, no ano passado, a coleção… Um atrás do outro… Meus prediletos: Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito e Persuasão. Mas todos são excelentes… Talvez alguns personagens circulem entre as diferentes historias… Muito interessantes, prazerosos e bem escritos.

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Clínica Tavistock Compreendendo Seu Filho

Esta “dica” de livro para pais e mães é realmente algo imperdível. Como me tornei mãe cedo, sempre gostei de ler sobre o assunto e nunca encontrei um conjunto de livros tão interessante e útil como este. Realmente diferenciado, escrito em uma linguagem acessível e dividido entre as diferentes fases do desenvolvimento da criança, chegando até a adolescência. Ler estes livros, para mim, fez a diferença em vários aspectos. Não tive acesso a eles desde a primeira infância de minhas filhas, ganhei de presente de meus pais quando já eram mais crescidas, mas as “partes” que li foram de grande contribuição para minha compreensão do que se passava e se passa na vida delas.

“A Clínica Tavistock, em Londres, foi fundada em 1920, com o objetivo de tratar as pessoas cujas vidas foram dilaceradas pela Primeira Guerra Mundial. Hoje em dia, ela ainda se empenha em compreender as necessidades das pessoas, embora, não há dúvidas, os tempos e as pessoas tenham mudado. Atualmente, além de trabalhar com adultos e adolescentes, a Clínica Tavistock possui um amplo departamento dedicado a crianças e famílias. Oferecendo assistência a pais que acham o desafio de educar seus filhos uma tarefa assustadora, o departamento possui uma vasta experiência com crianças de todas as idades. Convicto de que é possível realizar uma intervenção antecipada nos inevitáveis problemas que surgem ao longo do crescimento infantil, defende a idéia de que, se as dificuldades são observadas antes que os problemas se agravem, os pais são as pessoas mais indicadas para ajudar seus filhos a supera-las.”

A equipe profissional da Clínica contribui com uma série de livros que descrevem o desenvolvimento infantil normal, ajudam a reconhecer os sofrimentos e oferecem meios através dos quais os pais possam refletir sobre o crescimento de seus filhos.

Atualmente estou lendo: A ADOLESCENCIA,  compreendendo Seu Filho de 12 – 14 Anos

Simplesmente maravilhoso, educativo para pais que querem compreender o que se passa com seus filhos!

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O Processo de Kafka

Dica de livro: O Processo de Franz Kafka

“Tudo que não é literatura me aborrece profundamente” (Franz Kafka)

O Processo

 O Processo (1925), publicado postumamente, conta a história de um bancário Joseph K., que por razões que não se sabe, nem ele mesmo, é preso, julgado e condenado por um misteriosos tribunal. Não se sabe qual é o crime, se de fato foi ele quem o cometeu, quem são os “policias”, e quem é o que se diz “tribunal”.  Nesse romance, a ambigüidade onírica do peculiar universo kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. No inicio ele imagina ser brincadeira ou engano, mas a situação, que nunca fica-se sabendo qual é, vai se complicando, ele vai sendo envolvido de forma irreversível e sem certezas ou conhecimentos de causa ou consequências nosso personagem é engolido por um sistema que não fica claro qual é. A ação desenvolve-se num clima de sonhos e pesadelos misturados a fatos corriqueiros, que compõem uma trama em que a irrealidade beira a loucura. A situação é por completo absurda mas tão bem narrada e envolvente que mais uma vez Kafka surpreende.

Li sem conseguir parar, esperava por respostas e a cada pagina surgiam mais questões, eu, como apaixonada por Kafka, considero um dos livros imperdíveis da vida… Kafka demonstra de forma singular as sensações humanas, de forma inteligente e verdadeira.



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Dica de Livro:TRADUZINDO HANNAH

autor: Ronaldo Wrobel

editora: Record

Anos 1930, Rio de Janeiro, a Segunda Guerra mundial cada vez mais presente. No Brasil, mesmo sendo um dos países que recebiam os judeus, a narrativa mostra claramente que os mesmos não viviam livres por aqui, não eram tratados como iguais. Uma revolta comunista acaba de fracassar e o governo comandado por Getúlio Vargas  controla de forma acirrada os passos de estrangeiros como os judeus concentrados na Praça Onze.

Max Kutner, imigrante polonês é um pacato sapateiro que se vê obrigado a trabalhar para a censura postal da polícia, traduzindo do iídiche para o português as cartas de judeus como ele, com o objetivo de buscar mensagens cifradas nas correspondências. É uma tarefa difícil, envolta em dilemas que tiram a paz do sapateiro. Afinal, delatar a vida alheia não combinam com as crenças judaicas mas Max tenta agir com frieza e distância, mas as coisas logo fogem ao seu controle.
O romance gira em torno da paixão que Max desenvolve por uma das personagens das cartas que le, de nome Hannah, ela costuma escrever para a irmã distante. Max se apaixona pela adorável desconhecida e, obcecado por encontrá-la, muda radicalmente sua vida para descobrir que na realidade as coisas são bem mais complexas que uma simples carta e que nem tudo na vida tem tradução.

Uma historia instigante, maravilhosa, surpreendente até a ultima pagina, com personagens complexos e fortes, adoreiiii!!!

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Dica de Livro: Hanna e suas filhas


Marianne Fredriksson
Romance   312 páginas
Tradução: Myriam Campello

Eu simplesmente fiquei encantada, comovida com este livro. A autora retrata com desenvoltura e raro talento a vida rural em fins do século XIX, simples e simultaneamente complexa no que se refere as emoções. A saga de três gerações de mulheres de uma mesma família – Anna , uma escritora de 53 anos; a mãe dela, Johana, e a avó materna, Hanna .

 A historia entrelaçada de três mulheres, três gerações da mesma família, que buscam entender umas nas outras a vida, o passado mas acima de tudo a si mesmas.

  Marianne Fredriksson nasceu na Suécia, em 1927. Trabalhou como jornalista até 1988 quando passou a se dedicar à literatura. É autora de dez romances, incluindo “Hanna e Suas Filhas”, traduzido para 32 línguas, publicado em mais de 100 países, e eleito Livrodo Ano na Suécia em 1994 e na Alemanha em 1997.

Para quem gosta de um bom romance, com personagens fortes, imperdível!!! Eu leria novamente! emprestei a minha sogra e ela leu duas vezes para captar certas passagens que somente lendo mais de uma vez… Em fim, cada leitura do mesmo texto captamos coisas diferentes, não é mesmo?

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Dica de livro: Eu, Malika Oufkir Prisioneira do Rei

Uma das biografias mais impressionantes que já li, incrível a historia de vida da família Oufkir, de Malika Oufkir. Filha de um general, chefe do exército do Marrocos, foi adotada pelo rei Moahammed V, e criada como princesa até os seus 18 anos. Recebeu educação refinada, viveu em palácios com todo luxo e conforto, andava de jatinho particular e convivia com artistas famosos, reis, pessoas das mais altas rodas sociais. Vestia-se com os costureiros mais caros e requisitados de Paris. Uma verdadeira vida de princesa. A vida de Malika sofre uma tremenda transformação no momento em que seu pai biológico tenta um golpe para derrubar Hussein, aquela vida de sonhos vivida até então fica no passado e da-se inicio ao pesadelo, de Malika e de sua família biológica. O pai é assassinado e a mãe junto com Malika e mais cinco irmãos são presos em algum lugar do Saara e assim vivem, em condições desumanas, vivenciando todos os tipos de humilhação por vinte anos… Esta é a história contada pela própria Malika, escrita em conjunto com a jornalista francesa Michele Fitoussi. Um livro imperdível, emocionante, mostra o lado mais desumano e o lado mais humano das pessoas, a força e a fragilidade de tudo. 

Autor: OUFKIR, MALIKA
Autor: FITOUSSI, MICHELE
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS



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“Dica” de Livros

“Dica” de dois livros escritos pela mesma autora, MARAVILHOSOS!!!

São historias verídicas, fortes, historias de vida, de mulheres fortes que enfrentam situações inimagináveis.

Bem escritos e envolventes, aqueles romances que pegamos e só conseguimos largar quando chega ao FIM.

O primeiro, não melhor, mas o que foi escrito e deve ser lido primeiro, é “O Castelo de Vidro”, conta a história de vida da própria autora, a família atípica em que foi criada, as dificuldades e a resiliência. O segundo é “Cavalos Partidos”, a autora conta a história de sua avó, em um outro tempo, outro ambiente, a força e coragem de uma mulher.

Para quem gosta de ler um bom romance, imperdíveis, maravilhosos!!!

O Castelo de Vidro

Cavalos Partidos

Jeannette Walls

Editora Nova Fronteira

Trechos do livro O Castelo de Vidro:

“Filha, a gente não tem dinheiro para o presente, mas escolhe uma estrela no céu, e fica com ela pra toda a vida.”

Nunca acreditei em Papai Noel.

Nenhum de meus irmãos acreditava. Mamãe e papai se recusaram a nos deixar acreditar. Eles não tinham condições de comprar presentes caros e não queriam que nós pensássemos que não éramos tão bons como todas as outras crianças que, na manhã de Natal, encontravam todo tipo de brinquedos bacanas debaixo da árvore, que eram, supostamente, deixados lá pelo Papai Noel. Então, eles nos contaram que as outras crianças eram enganadas pelos pais, que os brinquedos que os adultos diziam serem feitos por duendes que usavam chapeuzinhos com guizos em um ateliê no pólo Norte tinham, na verdade, etiquetas onde estava escrito “Made in Japan”.

— Tentem não desprezar essas outras crianças — dizia mamãe.

— Não é culpa delas se elas sofreram uma lavagem cerebral pra acreditar nesses mitos bobos.

Comemorávamos o Natal, mas, geralmente, uma semana depois de 25 de dezembro, quando se encontravam laços de fita e papel de embrulho em perfeito estado que as pessoas tinham jogado fora, e árvores de Natal largadas ao longo dos acostamentos das estradas que ainda tinham a maior parte das folhas e, algumas, até enfeites prateados agarrados aos galhos. Mamãe e papai davam de presente um saquinho de bola de gude, ou uma boneca, ou um estilingue, que tinham encontrado na liquidação de Natal.

Naquele ano, papai perdeu o emprego na mina de gesso depois de brigar com um chefe, e, quando chegou o Natal, nós não tínhamos nem um centavo. Na véspera de Natal, papai nos levou para passear de noite no deserto, um de cada vez. Eu estava enrolada em um cobertor e, na minha vez, eu quis dividi-lo com o papai, mas ele disse “não, obrigado”. O frio nunca o incomodava. Eu tinha feito cinco anos, e sentei do lado dele, e nós olhamos para cima, para o céu. Papai adorava falar sobre as estrelas. Ele explicava como elas orbitavam pelo céu noturno enquanto a Terra girava. Ele nos ensinou como identificar as constelações e navegar pela estrela Polar. Aquelas estrelas brilhantes, ele insistia sempre, eram uma das melhores coisas que existiam para gente como nós, que vivia na natureza. Os caras ricos da cidade, dizia, moravam em apartamentos chiques, mas o ar deles era tão poluído que eles nem conseguiam ver as estrelas. A gente teria que estar completamente maluco para querer trocar de lugar com eles.

— Escolhe a tua estrela favorita — disse ele naquela noite. Ele disse que eu podia ficar com ela para mim. Ele disse que era o meu presente de Natal.

— Você não pode me dar uma estrela! — falei. — Ninguém é dono de uma estrela.

— É isso aí — disse ele. — Nenhuma outra pessoa tem uma estrela. Basta você declarar que tem antes dos outros, que nem aquele carcamano do Cristóvão Colombo, que declarou que a América era da rainha Isabel. Declarar que uma estrela é tua tem a mesma lógica.

Pensei bem e cheguei à conclusão de que o papai estava certo.

Ele sempre descobria umas coisas assim.

Eu podia ter qualquer estrela que quisesse, disse, menos Betelgeuse e Rigel, porque a Lori e o Brian já tinham declarado que elas eram deles.

Levantei os olhos, olhei as estrelas e tentei decidir qual era a melhor de todas. Dava para ver centenas, talvez milhares ou, até, milhões, brilhando no céu claro do deserto. Quanto mais tempo você olhava, mais os olhos se acostumavam ao escuro, mais estrelas você enxergava, camada por camada tornando-se visível. Havia uma em particular, a oeste, sobre as montanhas, mas baixa no céu, que brilhava com mais força do que todas as outras.

— Quero aquela — falei.

Papai sorriu.

— Aquele é Vênus — disse ele. — Vênus é apenas um planeta bem chinfrim se comparado às estrelas de verdade. Ele parece maior e mais brilhante porque está muito mais perto do que as estrelas. O pobrezinho de Vênus nem produz sua própria luz. É iluminado, não luminoso, só brilha porque reflete a luz. — Ele me explicou que os planetas brilhavam porque a luz refletida era constante, e que as estrelas brilhavam porque a sua luz pulsava.

— Gosto dele mesmo assim — falei. Eu já admirava Vênus, mesmo antes daquele Natal. Dava para vê-lo já nas horas iniciais da noite, cintilando no horizonte, a oeste. E, se você levantasse cedo, ainda podia vê-lo de manhã, depois que todas as estrelas já tinham desaparecido.

— Ora bolas — disse papai. — É Natal. Você pode ter um planeta se quiser.

E ele me deu Vênus.

Naquela noite, durante o jantar, conversamos sobre o espaço sideral. Papai explicou o que eram anos-luz, buracos negros e quasares, e falou das qualidades especiais de Betelgeuse, Rigel e Vênus.

Betelgeuse era uma estrela vermelha, no ombro da constelação de Orion. Era uma das maiores estrelas que se podiam ver no céu, centenas de vezes maior do que o Sol. Ela tinha ardido com um brilho intenso durante milhões de anos, e logo se tornaria uma supernova e se apagaria. Fiquei triste porque a Lori tinha escolhido uma estrela toda ferrada, mas papai explicou que “logo” queria dizer centenas de milhares de anos, em se tratando de estrelas.

Rigel era uma estrela azul, menor que Betelgeuse, prosseguiu papai, mas ainda mais brilhante. Também ficava em Orion — estava no seu pé esquerdo, o que parecia apropriado, porque o Brian corria super rápido.

Vênus não tinha luas nem satélites, nem sequer um campo magnético, mas ele tinha uma atmosfera meio que parecida com a da Terra, só que era extremamente quente — uns 260ºC ou mais.

— Por isso, quando o Sol começar a se apagar e a Terra congelar, todo mundo daqui vai querer mudar para Vênus, para ficar no quentinho. E eles vão ter que pedir permissão para os seus descendentes primeiro — alegou papai.

Rimos de todas as crianças que acreditavam na lenda do Papai Noel, e só ganhavam um monte de brinquedos baratos — e de plástico — de presente.

— Daqui a muitos anos, quando a porcariada que eles ganharam estiver quebrada e a tiverem esquecido toda — disse ele —, vocês ainda terão as suas estrelas.

Papai comprou um Ford Fairlane recauchutado naquele inverno, e, em um fim de semana em que o tempo esfriou, ele disse que nós íamos nadar no Pote Quente. O Pote Quente era uma fonte sulfurosa natural no deserto, ao norte da cidade, cercada de rochas íngremes e de areia movediça. A água era morna ao contato com a pele, e cheirava a ovo podre. Era tão cheia de minerais que incrustações duras e calcárias haviam se acumulado ao longo das bordas, como em um recife de corais. Papai sempre dizia que nós devíamos comprar o Pote Quente e transformá-lo em um spa.

Quanto mais fundo você entrasse na água, mais quente ela ficava. Era muito funda no meio. Certas pessoas das redondezas de Battle Mountain diziam que o Pote Quente não tinha fundo, que ele ia direto para o centro da Terra. Uns bêbados e uns adolescentes malucos tinham se afogado lá, e o pessoal do clube Owl, ao ver os corpos retornarem à superfície, constatava que eles tinham sido, literalmente, cozidos.

Tanto o Brian quanto a Lori sabiam nadar, mas eu nunca tinha aprendido. Grandes volumes d’água me davam medo. Pareciam artificiais — aberrações nas cidades de deserto onde havíamos morado. Nós nos hospedamos, uma vez, em um hotel que tinha uma piscina, e eu tinha conseguido arrumar coragem suficiente para circular ela toda, agarrada à borda. Mas o Pote Quente não tinha nenhuma beirada fácil de segurar como aquela piscina. Não havia onde segurar.

Eu me arrastei até a altura dos ombros. A água que circundava o meu peito estava morna, e as pedras onde eu estava pisando estavam tão quentes que eu queria continuar indo adiante. Olhei para trás, para o papai, que olhava para mim, sem sorrir. Eu queria adentrar a água mais profunda, mas alguma coisa me retinha. Papai deu um mergulho e me alcançou a nado.

— Você vai aprender a nadar hoje — disse ele.

Ele colocou um braço em volta de mim e começamos a nadar um com o outro. Papai me puxava. Eu estava aterrorizada e me agarrei ao seu pescoço tão forte que a sua pele ficou branca.

— Pronto, não foi tão ruim assim, foi? — me perguntou ele quando chegamos ao outro lado.

Nós fizemos o caminho de volta, e, dessa vez, quando estávamos no meio, papai desprendeu os meus dedos agarrados ao seu pescoço e me empurrou para longe dele. Comecei a espernear e me debater desesperadamente, e afundei na água quente e fedorenta. De maneira instintiva, respirei dentro d’água. A água se infiltrou pelo nariz, boca adentro e garganta abaixo. Os meus pulmões queimavam. Os meus olhos estavam abertos, e ardiam com o enxofre, mas a água era escura, e o meu cabelo estava colado contra o meu rosto, e eu não conseguia enxergar nada. Um par de mãos me segurou pela cintura. Papai me puxou até o raso. Eu cuspia e tossia e respirava de maneira irregular, através de soluços bruscos.

— Está tudo bem — disse ele. — Respira fundo.

Quando eu me recompus, o papai me levantou e me arrastou de novo até o meio do Pote Quente.

— Afunda ou nada! — gritou.

Pela segunda vez, eu afundei. A água mais uma vez invadiu meu nariz e meus pulmões. Esperneei e me debati até conseguir subir à superfície, buscando ar, e tentei alcançar o papai. Mas ele se afastou, e eu só senti as suas mãos me sustentando depois da segunda vez que afundei.

Ele repetiu os mesmos gestos de novo, e mais uma vez, até eu compreender que ele só me salvava para me jogar dentro d’água novamente. Por isso, em vez de tentar alcançar as mãos do papai, eu comecei a tentar me afastar delas. Eu o chutava e me afastava dentro d’água usando os braços e, finalmente, consegui me impulsionar para além do seu alcance.

— Você conseguiu, filhota! Você tá nadando! — gritou ele.

Arrastei-me para fora d’água e sentei sobre umas pedras calcificadas, com o peito arfando. Papai também saiu da água e tentou me dar um abraço, mas eu não quis nada com ele, nem com a mamãe, que tinha ficado boiando o tempo todo, como se nada estivesse acontecendo, nem com o Brian ou com a Lori, que vieram até mim para me dar os parabéns. Papai ficava dizendo que me amava, que nunca me teria deixado na mão, mas que eu não podia passar a vida inteira agarrada à borda, que uma lição que todo pai tem que dar ao filho é que “se você não quer afundar, é melhor tentar descobrir uma maneira de nadar”. Que outra razão, perguntou ele, poderia haver para me fazer passar por aquilo?

Quando recuperei o fôlego, eu comecei a achar que ele estava certo. Não podia haver outra explicação.

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A Elegância do Ouriço

Autor: Barbery, Muriel

Editora: Companhia das Letras

Este livro me foi muito recomendado, estou louca para comprar.

Alguém já leu? Vale a pena?

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Dica de Livro: O Tempo Entre Costuras

Ganhei este livro de presente no amigo secreto de Natal no ano passado, 2010, iniciei a leitura no dia seguinte e fluiu, adorei!!!

A historia se passa no antigo protetorado espanhol no Marrocos, onde, em plena Guerra Civil Espanhola, uma jovem costureira convive com realidades e duvidas… Costureira simples, com casamento marcado com rapaz “bom”, conhece um homem mais velho, vivido e sedutor. Abandona o noivo e embarca em uma aventura intensa que mudara a historia de sua vida… O sedutor homem a leva a caminhos sem volta, o que prometia ser uma paixão promissora transforma-se em sofrimento, vivências raras e tudo isso sob a luz de uma guerra. Essa é a trama de “O Tempo Entre Costuras”, best-seller espanhol.  A historia se passa no Marrocos e na Espanha, com personagens fortes e interessantes, surpresas, medo e conflitos internos e externos… Vale a pena!!!





 

 

 

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Dica de livro: AS BRASAS – Sándor Márai

Estava procurando há horas e não encontrava, meu pai emprestou…

Livro fascinante, maravilhoso, tanto a história, com a narrativa, a elegância e fluidez do texto, incrível…  Nas primeiras paginas já fixei atenção mas da metade em diante foi como vicio, não conseguia parar…

A construção do protagonista, um velho general do Império Austro-Húngaro, é tão bem feita, que logo nas primeiras paginas já havia me afeiçoado a ele…  A descrição de uma época, dos ambientes,  mesmo como pano de fundo, são feitas com extrema qualidade.

A visita de um antigo amigo, não se vêem há 41 anos e 43 dias… No passado uma abrupta separação, e os fatos narrados pelo general… Na verdade, Henrik acredita que este “confronto” foi responsável por mante-lo vivo…

O “ajuste de contas” entre Henrik e Konrad é um dos textos mais belos que já li.

Romance que se passa no século XX, publicado em 1942, livro que se mantém atual por tratar de temas atemporais como amizade, amor e honra.

imperdível, maravilhoso!!!

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Dica de Livro: RETRATO DE UM VICIADO QUANDO JOVEM Bill Clegg

Bill Clegg fuma crack pela primeira vez no apartamento de um advogado no Upper East Side. A fumaça com “gosto de remédio, ou desinfetante” gera “um raio de energia renovada” que “eletriza cada centímetro do seu corpo”. Rapidamente a experiência o atira no circuito costumeiro dos viciados: em vez de pensões imundas e noites na sarjeta, porém, sua via crucis inclui hotéis e bares de luxo, aeroportos e táxis que o conduzem de um lado a outro em Manhattan enquanto duram as dezenas de milhares de dólares em sua conta.
Clegg não se propõe a fazer um estudo psicológico de sua condição. Não tenta encontrar traumas passados que justifiquem atitudes negativas. Mas simultaneamente, flashes da infância e adolescência colaboram para identificar um padrão compulsivo e transgressivo em seus hábitos desde sempre, característica inseparável do cotidiano de um viciado.
Escrito com uma sinceridade devastadora, o livro acompanha a queda e a redenção final, quase por milagre, de alguém que se propôs a destruir tudo o que tem e ama.

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